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Uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) concedeu grande alívio à capacidade de financiamento dos bancos médios e pequenos. O CMN adiou ontem, pelo terceiro ano, a implementação das novas regras de contabilização das operações de cessão de carteiras de crédito. Agora, mudanças que apertariam o caixa e o índice de alavancagem das instituições passarão a valer somente a partir de janeiro de 2012, em vez de janeiro de 2011. A suspensão foi bem recebida pelos bancos médios e pequenos, que vinham em conversas com o Banco Central em prol do novo adiamento. “A medida é boa, mas precisa ser melhor discutida”, afirmou Renato Oliva, presidente Associação Brasileira de Bancos (ABBC), entidade que representa o segmento.
Nas operações de cessão de carteira com coobrigação, o banco que cede retém parte do risco de crédito até o vencimento das operações, embora o valor captado com a transferência dos ativos seja contabilizado de imediato no balanço como receita. Pelas novas regras, a receita de cessão passaria a ser diferida ao longo do tempo, sendo reconhecida à medida que os créditos fossem vencendo.
Ao comunicar o adiamento, o chefe do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do BC, Luiz Edson Feltrim, comentou a mudança dependerá da revisão da base conceitual da norma a ser feita pelo International Accouting Standard Board (IASB). “Não faz sentido obrigarmos nossas instituições a adotarem uma regra que muito provavelmente não vai ser a que irá vigorar.”
Os reflexos seriam sentidos também no índice de rentabilidade da instituição, que cairia dos atuais 36,1% para cerca de 20%. “A partir do segundo ano, porém, os impactos na receita já seriam atenuados”, afirmou Ricardo Gelbaum, diretor financeiro do BMG. O BMG captou, ao longo do primeiro semestre, R$ 20,34 bilhões, sendo 65,7% via cessão de carteira.
Guimarães estimava que, se as medidas entrassem em vigor em janeiro de 2011, o lucro do banco sofreria uma queda de 50% a 60% no primeiro ano. Mas, para ele, a queda do lucro seria o menor dos problemas. Guimarães temia um baque para a liquidez dos bancos médios e pequenos. A receita diferida precisa ser mantida em balanço, o que compromete o índice de Basileia. Ontem, Guimarães comentou que “os bancos poderão continuar os seus planejamentos com mais tranquilidade”.
João Heraldo Lima, presidente do Banco Rural, mostrou-se satisfeito com a postergação de data. Mas contou que o banco já vinha se antecipando à mudança contábil. “Em nosso orçamento, deixamos de contar com a receita da cessão das carteiras já a partir desse segundo semestre.” Segundo ele, na medida do possível, o banco tentará manter a carteira de crédito em vez de cedê-la. “Mas havendo possibilidade de ceder sem restrição, torna-se uma questão de oportunidade de bons negócios”, completou Lima.
No PanAmericano, estão ganhando reforço as cessões de carteira sem coobrigação, cujo resultado pode ser contabilizado de imediato. Mesmo assim, a ideia é diminuir a dependência da cessão, de modo geral, apesar de a operação ser considerada uma das formas mais inteligentes de captação. “A cessão funciona muito bem para os bancos que têm uma capacidade de operar superior à de captar”, diz Wilson de Aro, diretor de relações com investidores do banco.
(Colaborou Luciana Otoni, de Brasília)
Veículo: Valor 30/07/2010